Gilson Guimarães da Silveira
Textos
UÉ!...

  O sol da tarde já se abrandara; as sombras das árvores convidavam às andanças ao redor do bosque.
  Uma jovem mulher vinha caminhando em sentido contrário ao meu e de outra mulher, que ia a uns trezentos metros à minha frente. Ao se encontrarem, pararam. Pelos gestos, pelo som de vozes por mim percebido apesar da distância, concluí terem iniciado animada conversação - a jovem se mostrando mais efusiva, vistos os movimentos de braços e boca.
  Em poucos segundos eu já ouvia mais claramente as gargalhadas e loquacidade de ambas, notava os leves afagos que faziam nos braços uma da outra, carinhos ligeiramente interrompidos quando, atento e solícito, o "instinto de preservação" lhes ordenava, intermitentemente, cuidarem de si mesmas, ora ajeitando os próprios cabelos desalinhados, ora enxugando com as costas das mãos os suores das próprias testas, provocados pelo exercício puxado. (A propósito:  mulher não se sente confortável diante de outra, se está "desarrumada": imediatamente trata de mostrar à "oponente" que, se está daquele jeito, é por força das circunstâncias; afinal, não vê?, trata-se - como no caso aqui revelado - dum instante especial, fortuito, incomum!... E com interrupções assim, feitas de rápidos gestos, querem-se dizer, mutuamente: " - Não vem que não tem, engraçadinha! Se estou descabelada e suarenta, isto não é o meu normal - ´tá bom, fofoqueira?!"...)      
  Demonstravam grande amizade, enfim.
  O feliz encontro ia se desenvolvendo, festivo, e eu me aproximando.
  Estava perto, já preste a passar por elas (separavam-nos não mais que trinta passos duplos) quando ouvi a jovem mulher dar um gritinho e dizer, assustadinha, "selando" parcialmente os lábios com as pontas dos dedos:
  "- Hiii!... Não posso ficar aqui, conversando. Estou falando demais. O médico recomendou que eu caminhe e feche a boca!!!"...
  Vi surpresa no rosto da amiga, como se nele fora escrito (tal num outdoor de beira de estrada):
  " - Hein???!!!"...
  Trocadas essas "senhas", encerraram a conversação,  seguida dos habituais e sinceros (?) beijinhos de despedida.
  (...)
  Enquanto a mais jovem retomou marcha acelerada, a outra ficou momentaneamente estacionada, qual espantada, boquiaberta, sobrancelhas levantadas, olhos maliciosos a acompanharem as rés balouçantes que seguiam à sombra fresca do arvoredo.
...................................................................................................

  Sem interromper meus passos, curioso, virei-me um pouco de lado; e notei que a jovem mulher era um pouco gordinha...
 ... - só um pouquinho gorda.
    

                                  ---<<)){o}((>>---    


Mar.31, 2016
Guimaraens Esse
Enviado por Guimaraens Esse em 31/03/2016
Alterado em 20/09/2016
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras